Movimentos da Terra
Dissemos que a Terra anda em volta do Sol. Como é o seu movimento? Como é que sabemos isso?
De facto, a Terra tem dois movimentos ao mesmo tempo:
A rotação consiste no movimento giratório da Terra em torno do seu eixo, uma linha imaginária que passa pelo centro da Terra e que atravessa a superfície desta nos chamados pólos Norte e Sul (figura 1.5). O pólo Norte é o ponto da Terra de onde se vê a estrela Polar quase por cima. O pólo Sul é o ponto oposto, do outro lado da Terra. Daí não se vê a estrela Polar. Não faz sentido dizer que o pólo Norte está por cima do pólo Sul, uma vez que as noções de “cima” e “baixo” dependem do ponto de vista: para uma pessoa no pólo Norte, o pólo Sul está para baixo, mas, para uma pessoa no pólo Sul, é o pólo Norte que está para baixo... O sentido “para baixo” dirige-se sempre para o interior da Terra!
Um plano perpendicular ao eixo de rotação da Terra e que a divide em duas metades, chamadas hemisfério Norte e hemisfério Sul, marca na superfície terrestre uma linha chamada equador (figura 1.5).
Figura 1.5 – Movimento de rotação da Terra, com o eixo da Terra, os pólos Norte e Sul e o equador. A metade de cima, na figura, é o hemisfério Norte e metade de baixo é o hemisfério Sul.
A translação consiste no avanço do centro da Terra ao longo de uma curva fechada em redor do Sol (figura 1.6). Dizemos que descreve uma órbita (ou trajectória). Essa órbita parece circular mas, em rigor, é uma curva chamada elipse. Esse movimento dá-se com a velocidade de 30 quilómetros por segundo: isto significa que, em cada segundo, a Terra anda 30 quilómetros. Durante a translação, o eixo de rotação da Terra faz um ângulo de 23º com o plano da órbita da Terra.
Podemos, pois, comparar o nosso planeta a uma bailarina, que dá voltas em torno de si própria. Mas essa bailarina não está sempre no mesmo sítio... O movimento da Terra em volta do Sol é semelhante ao de uma bailarina que, rodando sobre si mesma, anda em volta de um ponto do palco. Para complicar, não é uma bailarina vertical, mas sim um pouco inclinada...
Figura 1.6 – Movimento de translação da Terra
Como nos apercebemos dos movimentos de translação e de rotação da Terra?
Translação
Observando com atenção do mesmo lugar (podemos usar o relógio de Sol construído na experiência anterior), verificamos que o Sol nem sempre nasce no mesmo sítio do horizonte e nem sempre se põe no mesmo sítio. Então onde fica a direcção do Oriente num certo lugar? De facto, o Sol só nasce exactamente a Oriente e só se põe exactamente a Ocidente nos dias 21 de Março e 23 de Setembro (os equinócios de que já falámos). Mas, qualquer que seja o dia do ano, passado um ano (cerca de 365 dias), o Sol volta a nascer no mesmo sítio.
Por outro lado, observando ao longo do ano também do mesmo lugar mas de noite, verificamos que o aspecto do céu à mesma hora da noite não é o mesmo todos os meses. Mas tudo se repete de ano a ano. Vemos o céu nocturno diferente todos os meses, porque a Terra se está a mover no espaço e “fica virada” para zonas diferentes do céu à medida que os meses passam (por exemplo, o céu visto de Portugal não é o mesmo em Janeiro e em Agosto, figura 1.13).
O tempo que a Terra demora a dar uma volta completa em volta do Sol não é exactamente de 365 dias, mas sim 365 dias e 6 horas, pelo que, de quatro em quatro anos, existe um ano com um dia a mais no calendário, sempre o último de Fevereiro. Esses anos são chamados bissextos.
Figura 1.12 - Cartas celestes mostrando o céu de Janeiro e o céu de Agosto, vistos de Portugal. O aspecto do céu nesses dois meses é diferente em virtude do movimento de translação da Terra.
Tanto os diferentes lugares onde nasce e se põe o Sol como o diferente aspecto do céu durante os vários meses do ano são explicados pelo movimento de translação da Terra em torno do Sol.
Dizemos que o período de translação da Terra é um ano, o tempo formado por 365 dias e 6 horas. Um jovem de catorze anos já deu, portanto, 14 voltas em torno do Sol. A órbita da Terra em volta do Sol é aproximadamente circular, como dissemos. O raio da órbita da Terra mede 150 milhões de quilómetros:
150 000 000 km = 150 x 106 km = 1,5 x 108 km = 1,5 x 1011 m.
Esta distância é muito grande comparada quer com o raio do Sol (RSol = 700 000 km = 7,0 x 105 km = 7,0 x 108 m) quer com o raio da Terra (RTerra = 6 400 km = 6,4 x 103 km = 6,4 x 106 m). Dá muito jeito utilizar potências de dez para indicar grandes distâncias, porque poupamos zeros. Uma potência de dez constitui o que se chama uma ordem de grandeza. Dizemos que a distância Terra-Sol é duas ordens de grandeza superior ao raio do Sol (para calcular a diferença das duas ordens de grandeza, subtraímos as potências de dez, depois de arredondar a segunda para cima: 11-9 = 2). Por sua vez, o raio do Sol é duas ordens de grandeza superior ao raio da Terra.
Por outro lado, sabemos que os vários meses do ano têm um clima diferente. As quatro estações do ano (Primavera, Verão, Outono e Inverno) caracterizam-se por tempos meteorológicos bem distintos (falamos de tempo meteorológico para o distinguir do tempo dos relógios). No hemisfério Norte, a Primavera começa a 21 de Março, o Verão a 21 de Junho, o Outono a 23 de Setembro e o Inverno a 21 de Dezembro, pelo que as estações dividem o ano em quatro partes aproximadamente iguais (figura 1.13).
Figura 1.13 - Translação da Terra, com a indicação das quatro estações do ano.
No Verão, está mais quente e no Inverno mais frio. Mas o Verão e o Inverno ocorrem em épocas diferentes do ano no hemisfério Norte e no hemisfério Sul. No hemisfério Norte, o Verão vai de 21 de Junho a 23 de Setembro e o Inverno de 21 de Dezembro a 21 de Março. Mas, no hemisfério Sul, o Verão vai de 21 de Dezembro a 21 de Março e o Inverno de 21 de Junho a 23 de Setembro. Tal facto explica-se também pelo movimento de translação da Terra. Contudo, ao contrário do que muita gente julga, o tempo quente no Verão no hemisfério Norte não se deve ao menor afastamento da Terra em relação ao Sol nem o tempo frio no Inverno no mesmo hemisfério se deve ao maior afastamento da Terra em relação ao Sol! Como já afirmámos, a órbita terrestre é quase circular, pelo que a Terra está sempre praticamente à mesma distância do Sol. Acontece que o eixo de rotação da Terra está inclinado do ângulo de 23º em relação ao plano da órbita da Terra (lembramos que foi assim que o colocámos na experiência 1.1). Assim, no Verão do hemisfério Norte, este hemisfério está mais inclinado para o Sol (e o hemisfério Sul está menos inclinado para o Sol). No Verão, a luz do Sol incide mais frontalmente sobre o hemisfério Norte (figura 1.14).
Figura 1.14 - Planeta Terra com o eixo inclinado. Inclinação dos raios solares sobre o hemisfério Norte no Verão. No Verão, há um dia de seis meses no pólo Norte.
Devido à inclinação do eixo de rotação da Terra, durante a Primavera e Verão no hemisfério Norte, é sempre dia no pólo Norte e é sempre noite no pólo Sul (figura 1.14). Do mesmo modo, durante o Outono e Inverno no hemisfério Norte, é sempre dia no pólo Sul e é sempre noite no pólo Norte. A duração dos dias e das noites varia, portanto, à medida que nos afastamos do equador, para Norte ou para Sul.
Resumindo: Os diferentes lugares onde nasce e se põe o Sol ao longo do ano, o diferente aspecto do céu nocturno, a sucessão das estações do ano e a diferente duração dos dias e das noites num certo lugar da Terra são, todos eles, explicados pelo movimento de translação da Terra.
Rotação
p>O movimento de rotação da Terra explica a existência dos dias e das noites. De dia, uma parte dos habitantes da Terra recebe luz solar, porque a parte da superfície da Terra onde vivem está virada para o Sol, mas os habitantes da Terra que estão do outro lado não recebem essa luz. Por exemplo, em Lisboa, às 8 h da manhã é de dia mas, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, para Ocidente de Lisboa, no mesmo instante são 3 h da manhã e ainda é de noite (figura 1.7). Enquanto uns tomam o pequeno almoço os outros ainda vão a meio do seu sono... A Terra vai girando e, em certos lugares, passa a ser noite quando era dia e, noutros lugares, do outro lado da Terra, passa a ser de dia quando era noite. E isto sem nunca parar!
Figura 1.7 - Movimento de rotação da Terra visto de cima do pólo Norte: Lisboa e Nova Iorque não "acordam" na mesma altura...
Como compreender melhor os movimentos da Terra?
Figura 1.8 - Modelo da Terra a girar em torno do seu eixo e a andar em volta do Sol.
Quando começa o dia, vemos o Sol «nascer» (de facto, não nasce, apenas surge à nossa vista, aproximadamente na direcção chamada Oriente ou Este), no horizonte ou linha de separação entre a terra e o céu (figura 1.9). Durante o dia, vemos o Sol percorrer o céu, num arco que vai de Oriente (ou Este) para Ocidente (ou Oeste). Ao meio-dia solar, o Sol está o mais alto possível, «está a pino»! Quando começa a noite, dizemos que o Sol se «põe» no horizonte, isto é, desaparece da nossa vista. Contudo, os nossos sentidos enganam-nos: não é o Sol que anda à volta da Terra (como julgavam os povos antigos), mas sim a Terra que está em rotação, virando sucessivas partes para o Sol. Vemos o Sol ir de Oriente para Ocidente porque a Terra gira no sentido contrário, de Ocidente para Oriente. Dizemos que o movimento do Sol é aparente.
Figura 1.9 - Movimento aparente do Sol. Deve-se à rotação da Terra.
Quando vamos num comboio, também nos parece que é a paisagem que vai a andar para trás, quando, de facto, é o comboio que vai a andar para a frente enquanto a paisagem permanece imóvel. O comboio desloca-se em relação à paisagem.
A Terra demora um dia, isto é, 24 horas, a completar uma volta em torno de si própria. Dizemos que o período de rotação da Terra é de um dia. O vaivém espacial (nave espacial reutilizável dos Estados Unidos) em órbita em volta da Terra gira mais rapidamente do que esta, pelo que os astronautas a bordo vêem, durante 24 horas, vários nasceres e pores do Sol.
Durante um dia, vemos o Sol nascer uma vez e pôr-se uma vez. A nossa experiência indica, portanto, que, durante parte do dia (24 horas), é de dia (vê-se o Sol) e que, durante a outra parte, é de noite (não confundir o dia, intervalo de tempo de 24 horas, com o dia, intervalo de tempo em que se vê o Sol). Mas essas duas partes não são, em geral, iguais. As durações do dia e da noite dependem da data do ano: no Verão, os dias são maiores do que as noites e, no Inverno, é ao contrário (podemos verificar este facto medindo com um relógio os intervalos entre o nascer e o pôr do Sol em vários dias ao longo do ano). Mas há dois dias especiais no ano em que os dias têm a mesma duração que as noites: são os chamados equinócios, em 21 de Março e em 23 de Setembro, quando começam, respectivamente, a Primavera e o Outono. Veremos adiante que a duração dos dias e das noites depende também do lugar da Terra: nos pólos, é de dia durante seis meses e é de noite durante outros seis meses.
De noite, também nos podemos aperceber do movimento de rotação da Terra. Tal como o Sol de dia, também as outras estrelas parecem mover-se, percorrendo arcos no céu. Falamos, por isso, de movimento aparente das estrelas. A estrela Polar (também chamada Polaris) parece quase fixa, porque se situa praticamente no prolongamento do eixo de rotação da Terra, na direcção pólo Norte - pólo Sul. Mas a estrela Sírio (também chamada Sirius) move-se. No hemisfério Norte vemos durante a noite as estrelas, incluindo a Sírio, andarem em torno da Polar (figura 1.11). As aparências enganam: o céu, com as estrelas, não roda em volta de nós, por cima das nossas cabeças...
Figura 1.10 - Fotografia de longa exposição mostrando as estrelas a rodar. A estrela Polar está quase no centro e, por isso, roda muito pouco. Este movimento das estrelas é aparente e deve-se ao movimento de rotação da Terra.
Em resumo: o movimento de rotação da Terra explica o movimento aparente do Sol, que vemos durante o dia, e pelo movimento aparente das outras estrelas, que vemos durante a noite.